quinta-feira, 1 de julho de 2010

À volta de Potsdamer Platz


Um pouco por consequência do que foi uma história algo atribulada, Berlim tem vários “centros”. Um deles, com a carga história definida em torno das Portas de Brandenburgo, com a vastidão verde (ou branca, no Inverno) do Tiergarten logo a oeste, o Reichtag bem perto e a Casa das Culturas do Mundo não muito distante (cinco minutos a pé), a leste estendendo-se a monumentalidade de Unter den Linden (avenida que lembra os dias da velha capital imperial). É na verdade este o coração da cidade, quebrado a meio quando o muro o dividiu, com arame farpado e, depois, tijolos e betão, precisamente junto às Portas de Brandenburgo. Um segundo centro, correspondendo à grande praça da antiga Berlim Leste, projectou-se em torno de Alexandrplatz, onde desemboca a Karl Marx Alee, a avenida que em tempos acolhia os desfiles do regime comunista. Um terceiro centro mora hoje em Potsdamer Platz, onde nos últimos 20 anos se desenvolveu um dos mais impressionantes núcleos de arquitectura contemporânea de toda a Europa.

Fica a aproximadamente um quilómetro a sul das Portas de Brandenburgo e representa, acima de tudo, um símbolo da vitória sobre a guerra fria e o encontrar de um novo caminho para a cidade depois da queda do muro.



É hoje a sede da Berlinale, de dois grandes multiplexes de cinema (o Cinemax e o Cinestar, dois importantes pólos de actividade durante o festival de cinema), um centro comercial, restaurantes, cafés…. Alberga uma série de importantes escritórios de grandes companhias, hotéis, e estações de U Bahn, S Bahn e mesmo da rede ferroviária nacional. A existência deste magnífico núcleo arquitectónico deve-se em tudo ao muro de Berlim. E, naturalmente, à sua queda.

Antes da II Guerra Mundial (que devastou completamente esta zona da cidade), Potsdamer Platz era uma praça elegante, cruzada por eléctricos, automóveis e transeuntes. Tinha cafés, hotéis, cinemas… Grandes lojas. E uma das principais estações de comboio de Berlim. A construção do muro reduziu a um vazio toda a área em torno da velha praça dos dias antes da guerra, afastando-a do novo mapa da cidade e quase apagando assim a sua memória. Do lado oriental os escombros de 1945 foram totalmente derrubados para assegurar maior e mais vasto campo de visão às patrulhas de vigilância. Do lado ocidental a zona acolhia um dos locais de visita “ao muro”, com uma escadaria montada para observação… turística. Entre os visitantes que por ali passaram para ver o outro lado de Berlim contam-se John F. Kennedy (1962), a rainha Isabel II (1965) ou Jimmy Carter (1978). De resto, entre as iniciativas que em 2009 assinalaram os 20 anos da queda do muro, foi ali erigida nova escadaria, com informação ao seu redor. Nos cartazes falava-se do muro que dividia a cidade, de factos ligados à história daquele lugar. Mas, subindo os degraus, lá de cima nada mais se via senão o intenso trânsito nas ruas ao seu redor e uma paisagem urbana moderna e habitada. O vazio e o silêncio de outros dias, são memórias ultrapassadas.


Foi em Potsdamer Platz que se abriu o primeiro rombo no muro, em Novembro de 1989. Depois de derrubado, em 1990, o muro e as zonas de segurança dos dias da guerra fria ali deixaram 60 hectares. Os mesmos onde hoje moram todos os edifícios que fazem desta uma das mais espantosas vistas da Berlim dos nossos dias.

Foi ainda no espaço deixado então livre entre Potsdamer Platz e as Portas de Brandenburgo, que Roger Waters encenou o mega-concerto The Wall, em 1990, uma mega-produção financeiramente suportada pelo próprio Roger Waters. Por detrás do palco era montado um novo muro branco, que seria derrubado no final da actuação. Foram vendidos 250 mil bilhetes. Porém, as “portas” do recinto foram abertas pouco antes do concerto, permitindo a entrada de ainda mais cem mil espectadores. Em directo, 52 países acompanharam o espectáculo pela televisão. Um concerto de duas horas que levou ao palco uma pequena multidão de convidados, entre os quais Ute Lemper, Marianne Faithfull, Joni Mitchell, Van Morrisson, Cindy Lauper, Jerry Hall, Bryan Adams, os Scorpions, orquestras e coros (um deles juntando elementos das forças russas então ainda estacionadas na Alemanha de Leste).

O concerto dava então um novo valor simbólico às canções do álbum The Wall, dos Pink Floyd. Editado 20 anos antes, era essencialmente, e na origem, uma reflexão sobre o isolamento individual, numa história que falava ainda de guerra e de totalitarismo. Um disco com a gravação do concerto foi editado quatro meses depois. E o “muro” dos Floyd passou a ser também o muro de Berlim.



Na verdade, quando falamos de Potsdamer Platz, estamo-nos a referir às áreas que cresceram a seu lado e não à praça em si, arquitectonicamente a menos exuberante das novas construções ali em redor. Atravessando a rua, em direcção ao Berlinale Palast (a “casa” das principais projecções e cerimónias durante o festival), vemos do lado esquerdo o Mendelssohn Bartholdy Park, hoje ladeado por espantosos edifícios que tanto dão tecto a escritórios como a habitação.

A “alameda” central deste pólo abre portas, entre outros, ao Arkaden, o centro comercial em cuja galeria central muitos cinéfilos passam noites, de saco cama, para tentar comprar bilhetes para as sessões mais disputadas. Do outro lado da rua, o Cinemax Café é, durante a Berlinale, uma espécie de ponto de encontro onde tanto se juntam amigos como ocasionais encontros de negócios. Ainda este ano, ao meu lado, um produtor tentava vender os mais inenarráveis filmes a um distribuidor sabe-se-lá de onde… Nem um nem outro falavam grande inglês…

Ali há comidas para todos os gostos e preços… Nada de muito elaborado, gourmet ou mesmo de fazer corar uma carteira. Dos bifes à la americana do Maredo aos enchidos alemães (em restaurantes no piso inferior do Arkaden), das sanduiches e bolinhos com ar de delícia para a corte de Versalhes de uma pastelaria mesmo à porta do centro comercial à oferta mais standard de um McDobalds mais à frente, um Starbucks ainda pelo caminho, não se pode dizer que haja falta de oferta para encher a barriga…


Caminhando para a direita, atravessamos a rua mais movimentada. E eis-nos no Sony Center, um dos exemplos mais vivos da nova Berlim aquitectónica. Construído entre 1996 e 2000 é na verdade um conjunto de edifícios em volta de um pátio central, e alberga, entre outros, o multiplex Cinestar, as salas mais “de autor” do Arsenal, um ecrã IMAX, a cinemateca (Filmhaus), cafés e restaurantes, uma pequena Legoland, lojas, apartamentos de habitação e escritórios. O projecto arquitectónico foi assinado por Helmut Jahn e hoje é um retrato frequente nas memórias de turistas que visitam Berlim, inevitavelmente fotografando a cúpula que domina o grande pátio central deste conjunto. Acho que não passou ano em que estivesse na Berlinale que não tenha tirado uma foto à cúpula da praça…

Apesar de derrubado (o que permitiu o nascimento de todas estas estruturas) o muro tem memória preservada em Potsdamer Platz. Ao lado de uma das entradas para as estações de metro e de comboios, ali estão pedaços da estrutura de betão. Pintados. Para a foto do turista… Mas também para não esquecer.

Banda sonora:
The Wall, de Roger Waters
Recriação, ao vivo, e com convidados, do clássico álbum de 1979 dos Pink Floyd. O espectáculo foi encenado entre as Portas de Brandenburgo e Potsdamer Platz depois da queda do muro. E as canções ganharam novo sentido…


Berlin, de Theo Bleckmann e Fumio Yasuda
Canções berlinenses, que ecoam várias etapas da conturbada história da cidade no século XX. Canções de amor, de guerra e de exílio, em novos arranjos para cordas, piano e voz.
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Sinfonia nº 2, de Mahler
A segunda sinfonia de Mahler fala de ressurreição, precisamente o que aconteceu nos últimos 20 anos em Potsdamer Platz. Esta gravação é dirigida por Simon Rattle, que hoje dirige a Filarmónica de Berlim, que mora mesmo ao lado desta praça.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O que resta de um muro

Mais de 20 anos depois da noite em que o muro deixou de ser uma barreira entre os dois lados de Berlim, o que dele resta é agora pouco mais que paragem turística (que a memória contudo não ignora como cicatriz de um período menos luminoso na história da cidade). Hoje, passando por Potsdamer Platz, ao olharmos para as placas de betão pintadas que ali “moram”, talvez tenhamos dificuldade em imaginar o que foi uma das mais desoladas terras de ninguém assim criadas em pleno centro de Berlim… E era assim, há apenas pouco mais de 20 anos…

Foram quase três décadas aquelas que Berlim viveu separada de parte de si mesma. Já havia uma zona de fronteira, delimitando o sector da cidade que, depois do fim da guerra, ficara sob controlo soviético. Havia barreiras e zonas de passagem. O “muro” surgiu, feito de tijolo, arame farpado e vergonha em Agosto de 1961. A decisão surpreendeu os berlinenses na manhã de 13 de Agosto, que subitamente viam fechado o acesso a Berlim Leste. Havia soldados a manter guarda em frente às Portas de Brandenburgo. Desde as primeiras horas da noite surgiram barreiras com arame farpado e, poucos dias depois, um primeiro muro com tijolos na linha de fronteira, quer circundando o perímetro externo dos sectores americano, inglês e francês, quer na linha de divisão com a metade Leste da cidade.

Fotos que acabariam célebres olhavam então os momentos em que famílias eram divididas e amigos ficavam separados… Seguiram-se histórias de tentativas de fuga, umas bem sucedidas outras nem por isso. Umas usando prédios na linha de fronteira, entrando pela porta a Leste e saindo, bagagens na mão, por janelas a Ocidente…

Com o tempo, e para evitar mais fugas, a linha de fronteira a Leste foi atentamente delimitada, pela agenda de trabalho passando planos de demolições e emparedamentos de janelas. Surgem mais tarde as torres de vigia. E, em 1966, uma segunda geração do muro, com paredes lisas, de betão, com uma secção cilíndrica no topo e sem pontos de apoio para qualquer eventual escalada. O “muro da vergonha”, assim acabou conhecido. Quando Kennedy o visitou, panos taparam o espaço entre as colunas das portas de Brandenburgo, impedindo que “espreitasse” o bloco de Leste… No mesmo local, em 1987, Ronald Reagan juntou palavras suas à história da cidade, pedindo ao líder soviético: “Mr Gorbachev, tear down this wall!”.

À sua sombra, David Bowie gravou em finais dos anos 70 três álbuns que, captando a alma da cidade, mudaram a sua música (e a de quem nela depois se inspirou). Mais de dez anos depois, em tempo de mudança, os U2 renasceram nos mesmos estúdios à beira-muro (os chamados Hansa By The Wall), ali surgindo Achtung Baby, disco que celebra precisamente um momento de mudança e choque de culturas quando as duas meias cidades se reencontraram.

Os estúdios ainda existem, mas ninguém imagina que o que hoje é uma rua movimentada e habitada por vários edifícios e empresas, era então um desencantado canto da cidade. A queda do muro deixou vasto espaço livre em seu redor, pelo que hoje o edifício é um entre os muitos que vemos, de cara lavada, na Kothener Strasse, junto à alameda do parque Felix Mendessohn Bartholdy, e a dois minutos a pé da renascida Potsdamer Platz. Passando na rua mal imaginamos que ali mora tanta história. Há um restaurante no rés-do-chão, uma sala de eventos no primeiro andar (muito usada para festas durante a Berlinale) e alguns pequenos escritórios no mesmo edifício.

O momento da mudança, de que Achtung Baby acabou por ser uma consequência, inscreveu na história o dia 9 de Novembro de 1989. Fisicamente, o muro não caiu imediatamente. Nos dias posteriores a 9 de Novembro foi anunciada a abertura de novos postos de fronteira em Berlim. Os guardas ainda vigiaram o muro durante alguns dias. Mas com o tempo aligeiraram a segurança. E em poucos meses pedaços do muro começaram a ser derrubados… E a 3 de Outubro do ano seguinte a reunificação alemã arrumava definitivamente esta história.

Pouco resta hoje do muro. Muito dele foi imediatamente desmantelado, feito em pedaços. Ainda hoje se vendem pedaços de muro (resta saber se do original, se de “fabrico” mais recente)… Há mesmo assim três segmentos expressivos ainda em pé. Um deles em Bernauer Strasse, outro junto à ponte Oberbaumbrücke (hoje conhecido como a East Side Gallery, revelando várias intervenções artísticas) e ainda um terceiro na zona entre Potsdamer Platz e o Checkpoint Charlie (célebre zona de fronteira que as lojinhas para turistas continuam a mitificar).

É extenso o pedaço de muro que vemos na Niederkirchnerstrasse, junto ao Martin Gropius Bau (grande edifício desenhado para albergar um museu e hoje destino de várias exposições temporárias que, todos os anos, em Fevereiro acolhe o Mercado Europeu do Cinema, organizado em tempo da Berlinale). Na verdade, este pedaço de muro é-nos servido num bizarro dois-em-um, já que serve de parede, ao nível do solo, a uma outra, outrora subterrânea, que pertencera às caves da antiga sede da Gestapo e que nos últimos anos tem sido o endereço da exposição ao relento “Topographies des Terror”. Apontando o olhar, como o fazem tantas máquinas fotográficas que ali passam todos os dias, vemos num mesmo plano marcas de duas etapas sombrias na história de Berlim.

Ao contrário da velha parede da Gestapo, onde textos e imagens recordam que cave afinal fora aquela, o muro parece hoje um inofensivo pedaço de betão. Nem muito espesso. Nem por isso assim tão alto… Mas absolutamente intransponível em tempos idos. Experimento colocar-me de frente para uma secção do muro. Ou seja, olhando-o de lado… Parece uma parede. Uma parede quebrada. Mas que em tempos separava duas visões do mundo.

Caminhando daí até Potsdamer Platz (e a viagem dura pouco mais de um minuto a pé, a bom passo), vemos hoje, primeiro uma esquina de trânsito composto, edifícios modernos e, mais adiante, uma das mais espantosas concentrações de arquitectura contemporânea no coração de uma cidade europeia. E aí, ao lado de grandes hotéis e de monumentais entradas para a estação de comboios (e também de metro), alguns pedaços do velho muro arrumados como se de uma instalação se tratasse. A vibrante agitação que aquele ponto de Berlim hoje conhece - é a sede da Berlinale, a Cinemateca e a Philarmonie estão por perto, há restaurantes, um centro comercial e muitos edifícios de escritórios – sublinha a forma como, tal como no mundo natural a vida brota sobre os mais improváveis terrenos depois de catástrofes, também ali a vida reclamou para si aquele canto que, durante longas décadas, era sombria e deserta terra de ninguém.

Banda sonora:
Heores, de David Bowie
Gravado nos estúdios Hansa By The Wall em meados de 1977, é um disco que reflecte sobre marcas e ambientes de uma cidade onde então Bowie encontrou nova casa depois de uma etapa em Los Angeles.




Achtung Baby, dos U2
Nos mesmos estúdios, mais de dez anos depois, e já sem um muro a dividir os dois lados de Berlim, um álbum que traduz as atmosferas de uma cidade reencontrada consigo mesma.




Ode an die Freiheit, por Leonard Bernstein
Juntando numa orquestra músicos dos dois lados da cidade e das forças que se haviam ali confrontado nos anos 40, Bernstein apresenta em Berlim, em finais de 1989, uma 9ª de Beethoven. Trocando uma palavra no poema de Schiller cantado no quarto andamento: “freiheit” (liberdade) em vez de “freude” (alegria).

terça-feira, 15 de junho de 2010

Bowery, 315

Já por lá tinha passado em visitas anteriores a Nova Iorque, mas daquela vez tinha de regressar ao número 315 da Bowery. Até porque, daí a alguns meses, seria cumprida a ordem oficial e o mais mítico dos clubes de rock da cidade fecharia definitivamente as portas. Chamou-se CBGB, ou seja, as iniciais de country, bluegrass and blues. E acrescentava ao nome as letras OMFUG, que por sua vez traduzia a ideia de “other music for uplifting gourmandizers”… Na verdade foi mais pelo espírito OMFUG que pela linha CBGB que o clube ganhou o seu lugar na história da música popular, acabando associado à génese do punk nova-iorquino.

Num incaracterístico edifício, relativamente baixo, com paredes de tijolo, o toldo branco com as iniciais CBGB – OMFUG, a vermelho, não enganava nunca quem passasse então pela movimentada Bowery, uma das artérias centrais do trânsito no East Village, em Manhattan. Sob o toldo uma zona da parede pintada a branco abria espaço para uma porta escura, com uma pequena janela de cada lado, os vidros tradicionalmente pintalgados a flyers anunciando concertos e mais concertos.

Estávamos ainda a meio da tarde, portanto a horas da abertura das portas. Mas a porta na verdade estava aberta, uma cortina escura separando a rua do clube. Normalmente, depois das portas, os bares têm um pequeno hall, antes da zona de balcão e palco. E só lá para o fundo, fora da movimentação, o escritório. Pois no CBGB, depois da porta, e antes mesmo de entrarmos no bar, os primeiros metros quadrados do clube não eram senão o escritório. Flyers e cartazes na parede, muita papelada sobre as mesas. Um pequeno aparelho de TV a meia altura… Numa das mesas um computador. Estava por lá um pequeno grupo de homens a falar. Conhecia, naturalmente de fotos, a figura de Hilly Kristal, o dono e fundador do clube e, por inerência dos factos, uma espécie de “padrinho” (num sentido que não o dos Corleone) do punk. Não era nenhum entre os que ali via... Perguntei então se estava. Sou jornalista e gostaria de fazer um trabalho sobre o CBGB… Blá blá blá… Certamente mais um entre milhares. Sobretudo desde que, nos últimos anos, e na sequência de uma questão ligada com a renda, a luta pela sobrevivência do clube o devolvera às páginas dos jornais onde há muito, convenhamos, dele não se falava… Disseram-me que ligasse de manhã, que bem cedo Hilly Kristal lá estaria… Muito obrigado, e até amanhã.

Antes de seguir caminho, com a Other Music (a mais fantástica loja de discos com alma indie em Manhattan) ali à espera, na não muito distante rua 4, uma passagem pela porta ao lado. O número 313 da Bowery acolhia então a CB’s Gallery. Ou seja, uma extensão directa do clube, com bar já a funcionar à luz do dia, com área para exposições (lá havia uma, de pintura) e ainda espaço para uma mini loja CBGB. Ao lado de cartazes ‘Save CBGB’ ali havia de tudo na “linha” CBGB, das míticas T-shirts negras com o logotipo do clube às variações nos mais variados tamanhos e cores, algumas delas nada punk... Havia uma outra T-shirt, imitando a mancha dos flyers promocionais, com nomes de bandas que por ali tinham tocado. Ainda cortinas de duche (sim, cortinas para duche) CBGB. Boxers e lenços. Palhetas, porta chaves… Autocolantes, discos em vinil. E o livro CBGB – OMFUG: Thirty Years Of Underground Rock, uma fotobiografia com introdução de Hilly Kristal e prefácio de David Byrne. Fiz umas compras. Marcharam duas T-shirts, uns autocolantes e dois discos em vinil com gravações vintage… Tudo devidamente acondicionado num daqueles sacos de papel brilhante, com asas a imitar corda, tipo loja chique de avenida principal. Saco preto, com letras prateadas… Não exactamente… punk.

Na manhã do dia seguinte chovia a cântaros. Telefonei às nove e pouco, depois de um pequeno almoço com uma incontornável ‘stack’ de panquecas e um “baldinho” de café de saco. Foi o próprio Hilly Kristal quem atendeu. Tudo OK… Podia estar no clube daí a meia hora? Claro. A caminho do metro, Manhattan abaixo. E lá estava a tempo e horas.

Sentámo-nos no escritório. Ele, de T-shirt oficial do clube e um hoodie cinzento escuro por cima, fazendo ainda as contas da noite anterior, a sua cadeira sendo a que olhava de frente para a porta de entrada. Recordou então memórias. De como tinha aberto o clube em 1973 a pensar numa ementa de som com country, bluegrass e blues. “Não a country de Nashville, mas os idiomas folk, o bluegrass”, explicou. A Bowery era, então, “a pior parte da cidade” e “muita gente nunca viria a este lado”. Havia “medo da zona”, recordou. Tudo mudou quando começou a programar outras músicas. Jazz, rock’n’roll… “Depois toda aquela nova onda de músicos… Chamaram-lhe punk mais tarde, mas no princípio tratámo-los como street rock”, descreveu. Eram, como acrescentou ainda, “miúdos sem nenhum lugar para tocar a sua música, que ensaiavam em águas furtadas, onde também dormiam”. Pois entre os “miúdos” estavam os Talking Heads, os Ramones, Patti Smith, os Television, Richard Hell, Blondie… Toda uma nova geração de bandas que mudaria profundamente a história da música popular.

Falámos e falámos, sem olhar para o relógio. Ou seja, nada daquelas entrevistas tipo enlatado para 20 minutos de perguntas e respostas que se tornaram norma no mundo do jornalismo musical. Perguntei então se podia tirar umas fotos às míticas paredes do clube. Força!

Pela passagem ao lado esquerdo do vestíbulo/escritório entramos na sala principal. O bar no lado direito da sala estreita e comprida. À equerda, e sob uma plataforma elevada, as mesas e cadeiras, àquela hora da manhã ainda arrumadas umas sobre as outras. Ao fundo o palco feito de tábuas, elevando-se a apenas poucos centímetros do chão, adivinhando evidente proximidade entre quem toca e quem assiste. Bateria, microfones, cabos e mais cabos… Colunas de som a meia altura nas paredes, outras levantadas do chão. Ao lado as casas de banho… E pelas paredes um sem fim de graffiti, restos de cartazes e flyers, palavras escritas a caneta, marcas de noites de música ao vivo que, mesmo numa manhã de casa vazia, transbordavam de sugestões de memórias com som.

Em jeito de balanço, Hilly afirmou então que gostou do que ali acontecera nos anos 70. “Havia uma necessidade entre os mais jovens para se afirmarem como indivíduos, uma vontade de dizer algo, coisas positivas, coisas negativas. Não era um discurso como o que se fizera contra a guerra no Vietname, era mais individualista. E isso é saudável”, rematou. Despediu-se à porta, com mais uma foto da praxe…

O CBGB fechou definitivamente as portas em Outubro de 2006, Patti Smith tendo sido a última a pisar o seu palco. Hilly Kristal morreu, vítima de complicações de um cancro, em Agosto de 2007. Hoje, o número 315 da Bowery acolhe uma das lojas do designer John Varvatos.

Banda sonora:
Horses, de Patti Smith
Patti Smith foi a primeira voz, entre as reveladas no CBGB, a conhecer um contrato com uma grande editora. Horses, em 1975, foi o seu primeiro disco. As canções passaram pelo palco do CBGB.

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Marquee Moon, dos Television
O grupo liderado por Tom Verlaine foi outra das forças maiores nascidas da agitação punk que teve por palco primeiro o CBGB. De 1977, este disco é um clássico fundador desta linguagem.

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Talking Heads: 77, dos Talking Heads
O grupo foi também presença marcante no palco do CBGB nos dias de meados de 70, trilhando um caminho que os levou no sentido de ajudar a definir a etapa seguinte: a new wave. De 1977, este foi o seu primeiro álbum.





PS. A entrevista com Hilly Kristal foi publicada no nº 33 da revista 6ª, que acompanhou a edição de 25 de Agosto de 2006 do DN.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Na esquina da rua 72

Há roteiros “turísticos” para fãs dos Beatles. Naturalmente com Liverpool à cabeça das sugestões, tantos que são os lugares da cidade que acolheram episódios nas vidas dos músicos como os recantos que acabaram retratados em canções, de Penny Lane aos Strawberry Fields… Hamburgo é passagem fundamental em turismo beatlesco, podendo-se passar pela zona em volta da Reeperbahn e ainda hoje ver palcos como o Indra Club (no número 64 da Grosse Freiheit) ou o Keiserkeller (no número 38 da mesma rua), que acolheram, em finais dos anos 50 e inícios de 60, actuações que então ainda não adivinhavam a história que se seguiria à edição de Love Me Do… Londres é destino certo para o turista beatlesco, com paragens obrigatórias nos estúdios Abbey Road (com caneta nas mãos para pintalgar o muro com mais um autógrafo na melhor tradição “eu estive aqui”) ou frente ao número 3 de Saville Rd, junto à velha sede da Apple em cujo telhado o grupo deu aquele que foi o seu último “concerto” ao vivo, em Janeiro de 1969.

Mas estamos em Nova Iorque, outra das quatro cidades fundamentais no mapa-mundo do turismo para fãs dos Beatles. E não faltam aqui lugares para peregrinação…

Dos estúdios da CBS (na 5ª avenida) onde Ed Sullivan acolheu as míticas primeiras actuações televisivas do grupo nos EUA, em Fevereiro de 1964, ao Shea Stadium em Queens (a “casa” dos New York Mets) onde os Beatles deram um dos mais míticos dos seus concertos, em 1965, perante 55 mil fãs, o roteiro é vasto e, está visto, vai além de Manhattan.

Um dos ‘fab four’ fez de Nova Iorque a sua casa. E, mais que revisitar os lugares de passagens dos Beatles, muitos dos admiradores do grupo que visitam a cidade procuram os lugares onde Lennon viveu a maior parte dos seus dias depois da separação do grupo. Mas quando se fala em visitar a “casa” de Lennon e Yoko Ono em Nova Iorque, poucos imaginarão que se poderá estar a falar de um pequeno edifício, de porta discreta e poucos andares, no número 105 de Bank Street… É uma rua com trânsito de sentido único, em pleno Greenwich Village, o seu nome decorrendo do facto de ali ter existido, em finais do século XVIII, uma sucursal de um banco com sede em Wall Street. Pois esta foi a primeira casa de Lennon em Nova Iorque. Menos vistosa (e certamente mais económica) que aquela que, todos os dias, é visita de muitos que passam pela cidade: o Dakota…

É um prédio de apartamentos de luxo, exactamente na esquina de Central Park West com a rua 72. Foi mesmo o primeiro prédio de apartamentos de luxo da cidade e, quando inaugurou, não havia quase nada à sua volta…

É imponente. E nem só da memória de John Lennon vive a sua história, uma vez que desde que foi construído, em 1884, ali moraram, entre outras, figuras como Leonard Bernstein, Judy Garland, Boris Karloff ou Laureen Bacall. O edifício foi já celebrado pela literatura e cinema, as suas paredes surgindo, por exemplo, em Rosemary’s Baby de Roman Polanski ou Vanilla Sky, de Cameron Crowe.

Não é difícil “dar” com o Dakota. Há uma paragem de metro mesmo ali ao lado. E as características arquitectónicas não o permitem confundir com mais nenhum outro edifício nas imediações. E se ainda faltarem dívidas, basta olhar para a concentração de almas de máquina fotográfica apontada às suas paredes e janelas.

Era daquele lado… Não, era nos andares de cima… Ouvi dizer que tinham mais que um apartamento… As opiniões são muitas, as certezas nem por isso… Bom, Lennon morava no sétimo andar… E tinha cinco apartamentos no edifício (um residencial, um feito escritório, outro para convidados e dois para arrumações).

Mas é possível imaginar. Sobretudo o episódio que colocou o Dakota na história da música popular. Não como a mais célebre morada de Lennon em Nova Iorque. Mas como o lugar onde Mark Chapman o alvejou a 6 de Dezembro de 1980, vindo o músico a morrer não muito depois, já no Roosevelt Hospital, na rua 59 com a 10ª avenida.

A recriação que J.P. Schaefer dirigiu no algo ignorado Chapter 27 imagina de forma espantosa e clara a sucessão dos factos, colocando-nos no espaço de Chapman (aqui magistralmente interpretado por um Jared Leto que foi forçado a bizarra dieta para engordar, de facto, os valentes quilos que o papel lhe pedia)… O nome do filme, já agora, sugere uma ligação directa a Catcher In The Rhye, o livro de Salinger que Chapman tinha no bolso nesse dia e, tudo indica, terá moldado a sua atitude numa assimilação de ideias com o desfecho que todos conhecemos.

Com as memórias da história que a imprensa tantas vezes relatou desde esse já longínquo Dezembro de 1980 e as imagens de Chapter 27, uma passagem pela esquina da rua 72 com Central Park West transforma-se num instante carregado de sentidos. Olhamos para as janelas, tentando adivinhar em quais delas estaria o quarto onde, horas antes de alvejado, Lennon e Ono haviam sido fotografados por Annie Leibovitz. O olhar desvia-se então para o portão, já em plena rua 72. O mesmo junto ao qual Chapman tinha passado aquela manhã, com o recentemente editado Double Fantasy na mão, pedindo um autógrafo ao ex-Beatle. É aterradora a fotografia (que existe) onde se vê Lennon a dar o autógrafo.

Foi em torno do Dakota que, na manhã seguinte, se juntou, em sua memória, a primeira multidão de admiradores de Lennon. Não há dia em que não passe ali quem olhe para aquelas paredes e recorde esta história. E muitos são os que, depois do Dakota, entram pelo Central Park pelo caminho directamente em frente à rua 72, procurando o “memorial” que desde 1985 ali celebra a vida e obra do ilustre vizinho que ali vivera. Muitas vezes o “memorial”, numa zona do parque entretanto rebaptizada como Strawberry Field, é descrito como um “mosaico” inspirado pelos de Pompeia, com a palavra ‘Imagine’ ao centro. O “imagine” lá está, de facto, no centro de uma rosácea. Mas na verdade o memorial foi feito por portugueses. Pompeia não parece morar nesta história… Acontece que pelos livros editados pelo mundo hora deve haver mais imagens dos mosaicos da cidade que o Vesúvio apagou do mapa no ano 79 que fotos das calçadas de Lisboa… Pompeia é mais mainstream que Lisboa, assim sendo…

Como explicam o Luís Pinheiro de Almeida e a Teresa Lage no livro Beatles em Portugal, a ideia partiu de um português que viveu no mesmo andar de Yoko e Sean Lennon no Dakota. Basalto e calcário arranjavam-se por ali. De Lisboa partiram dois calceteiros que, em duas semanas, terminaram a obra. Confesso que, lisboeta de gema, e com calçada portuguesa na minha rua, não encontrei o “memorial” da primeira vez que ali passei. Está numa “lágrima” do parque onde Lennon e Yoko por vezes passavam… Escolheram um lugar tranquilo e discreto, está visto.

Banda Sonora:

Double Fantasy, de John Lennon
e Yoko Ono

O álbum que John Lennon e Yoko Ono editaram poucas semanas antes da morte do músico, tem uma história inevitavelmente ligada ao Dakota. As canções devem ter, algumas delas, nascido por aqui.



Free as a Bird, dos Beatles
A canção “nova” dos Beatles editada em 1995 nasceu na verdade de uma gravação caseira, feita no Dakota, por Lennon, ao piano, em 1977.





Chapter 27, de Anthony Marinelli
É a banda sonora do filme de J.P. Shaefer. Essencialmente instrumental, inclui ainda a canção Fall Into Place, co-assinada por Rich Price.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Sem efeitos especiais

Pudesse ser tudo como por vezes o cinema nos mostra... Chegar do ar, descer sobre Nova Iorque, rumo a Manhattan, a caminho do Central Park, reduzir velocidade e parar frente à Fonte de Bethesda, só acontece numa fracção de segundos no genérico do telefilme Angels In America, que Mike Nichols realizou com base numa peça de teatro de Tony Kushner. Na realidade, o mesmo trajecto, para o mais comum dos seres humanos, é coisa que pode levar umas horas…

Nada demais a relatar no voo de Lisboa para Newark, onde desde há alguns anos chegam e partem muitas das ligações entre a capital portuguesa e Nova Iorque. Na verdade, e para quem tem Manhattan por destino, o aeroporto de Newark não fica muito mais distante da nossa meta que o JKF, em Long Island. Há uma ligação de metro possível do JFK a Manhattam. Mas a linha não é bem a Picadilly Line que liga Heathrow ao centro de Londres… E de malas nas mãos, e com uma viagem de avião um tanto mais longa, a chegada merece um pouco mais de conforto.

Passar a fronteira dos EUA dá um trabalhão. Longas filas, fichas devidamente preenchidas (de preferência antes de aterrar). E uns funcionários com cara de poucos amigos a olhar para quem acaba de chegar. Ao que vem? Quanto tempo fica? Watch the birdie…. E zás, tiram-nos uma fotografia. Isto e mais esperar pelas malas e é quase uma hora que passa.

São várias as opções que se colocam a quem chega a Newark… Dois anos depois, de regresso a Nova Iorque, optei por um transfer de quatro rodas, com motorista ao volante, mal imaginando que me esperava longo, bem longo compasso de espera para atravessar o Lincoln Tunnel (era dia de semana e já tinha a obrigação de saber como é o trânsito nos acessos a Manhattan!). Naquela tarde de Verão, e porque íamos ficar num apartamento bem perto do Madison Square Garden, olhámos para a placa que indicava a estação de comboio junto ao aeroporto, malas nas mãos e seguimos em frente.

Foram poucos os que pensaram o mesmo que nós e a plataforma estava quase vazia. Fazia já calor. E apenas uma estrutura coberta tapava o sol. Porém, sem ar condicionado! Ao relento, ao menos a coisa era menos abafada!

O comboio era um daqueles que fazem ligações suburbanas, certamente ligando Manhattan a Newark, a poucos quilómetros de distância, o aeroporto algures a meio caminho. Vinha mais cheio que vazio. E, anos antes da moda dos headphones XXL chegarem a estes lados do oceano, já o aparato morava na cabeça de muitos dos que partilhavam aquele troço final para apenas mais duas estações. Convenhamos que tão XXL como os auscultadores era q uem os usava, boné, ténis e calções largos a rigor. Os filmes, está visto, não mentem.

Seguimos junto ao rio, subindo-o com o skyline de Manhattan a traçar a paisagem à nossa direita. O olhar inevitavelmente apontava ao extremo Sul da ilha, em busca do que já lá não estava: as Torres Gémeas. Tinha subido ao observatório no 107º de uma delas na última passagem pela cidade, alguns anos antes. Estávamos já no século XXI, portanto. Um túnel chamou então as carruagens, que se imobilizaram pouco depois de o atravessar, parando numa das plataformas da Penn Station.

Grande invenção, a das malas com rodinhas. Puxámos pelas trelas e arrastámo-las pela rua 33, passando primeiro a sétima aveninda, virando à esquerda na sexta. E depois da Harold Square, entrando na rua 34, a mesma onde, ao lado, mora o Empire State Building, que recentemente havia reclamado novamente o estatuto de edifício mais alto da cidade.

À entrada, ao entregar das chaves, tomam-me por italiano. Não era a primeira vez que acontecia, na América… Apartamento no 23º andar! Cool! É suficientemente alto para saber a arranha-céus (na verdade o edifício só tinha mais dois andares, mas ninguém precisa de olhar para cima, que a cidade corre mais em baixo). Cozinha, casa de banho, sala com zona de dormir e zona de estar, TV e aparelhagem áudio. Ok, serve perfeitamente. Arrumar malas, que é como quem diz deixá-las num canto.

Antes de continuar o trajecto, há que “mobilar” minimamente a nova casa. Na Broadway, perto da esquina com a rua 33, havia uma daquelas parafarmácias que vendem tudo, de soro fisiológico a fruta e sumos… Já safa um primeiro serão. E com o frigorífico menos vazio que o que se mostrara minutos antes, rumo ao metro, que já passaram mais de duas horas desde que chegámos…

A linha D tem estação na rua 34 com a Herald Square. Nos meus dias de Filadélfia usava ‘tokens’, que se compravam com ‘quarters’ (moedas de 25 cêntimos), mais que um ‘quarter’ por viagem, claro. Agora há cartões com crédito que se pagam com cartão de crédito. Já os torniquetes de metal por onde se passa são os mesmos de sempre, desagradáveis e pesadões, mas lá se passam e estamos na plataforma. Entramos. As estações vão-se sucedendo… E só então reparo que nos metemos num “express train”, que sobe todo o Central Park de um só fôlego e, depois da rua 59, só pára em pleno Harlem, na rua 125. Toca de voltar para trás. Linha B abaixo, até à rua 72… E já na rua, uma imagem com peso mítico: o Dakota, edifício onde viveu (e à porta do qual foi assassinado) John Lennon. Já lá vamos, que a viagem sugerida em Anjos na América chama primeiro…

Primeiro uma água fresca. Compra-se a garrafa num dos quiosques na entrada do parque, que todos os dias devem matar a sede a muitos fãs dos Beatles que ali passam em peregrinação, com máquina fotográfica na mão. Entramos pela West Drive, que liga o parque à rua principal que lhe serve de fronteira. Viramos na 72th Transverse… E não muitos passos depois, nem reparando que o “memorial” a Lennon, feito com calçada portuguesa, estava mesmo ali ao nosso lado, chegamos finalmente à estrutura construida na década de 60 do século XIX. Duas escadarias laterais, uma galeria subterrânea e mais uma escadaria ao fundo. E, lá em baixo, a mesma estátua que nos anos 60 era ponto de encontro de beatniks e, nos 70, de dealers. A mesma que fecha o plano final do genérico do telefilme… Na televisão são poucos segundos… Ao vivo, sem efeitos especiais, foi viagem para quase três horas…

Banda sonora:

Angels In America, de Thomas Newman
A banda sonora do genérico de que se fala. A música é interpretada por uma orquestra dirigida pelo próprio Thomas Newman.






Go Away White, dos Bauhaus
É o menos interessante dos álbuns dos Bauhaus, nascendo da sua mais recente reunião. A ligação faz-se na capa, onde surge uma foto da estátua que vemos na fonte de Bethesda.




Central Park in the Dark, de Charles Ives
São várias as gravações desta obra de 1906 de Charles Ives. Uma das melhores gravações da obra é esta, que a DG editou e que resulta de uma gravação de 1987 dirigida por Leonard Bernstein, à frente da New York Philarmonic.